quinta-feira, 9 de agosto de 2018

RELATO DE PRÁTICA - Poema





          

Escute o que vou te contar...

Já no início do ano letivo, ao adentrar nas salas de aula da Unidade Escolar Lélia Silva Trindade percebi que este ano não seria igual a tantos outros.
Havia duas razões para que isso acontecesse. O primeiro motivo era a reforma na estrutura do prédio que aconteceria paralelo às aulas e o segundo motivo
seria a heterogeneidade da turma de sexto ano que ora eu estava assumindo. O sexto ano “B” diferente das demais turmas possui muitos alunos com distorção idade-série
(alunos com faixa etária entre 11 e 18 anos de idade). De imediato senti que a minha tarefa ali não seria das mais fáceis.
Prestem bastante atenção às coisas que eu vou lhes contar:

"Eu venho lá do sertão!" - terra seca e de povo sedento. Temos muita sede: de água e de saber!
 Infelizmente, essa sede de saber não está em todos os nordestinos, e principlamente, não está presente na vida de todos os meus
alunos da turma "B" do 6º ano do Ensino Fundamental da esccola pública municipal Lélia Silva Trindade.
Foi com muita relutância que apresentei a eles a Olimpíada de Língua Portuguesa escrevendo o futuro.
A desatenção, a incredulidade e a ausência de sonho, não permitiram que aqueles meninos e meninas tão carentes se engajassem nesse sonho tão real.
"Voar? __ Como assim, profesora? A senhora quer dizer que se passarmos iremos voar? De avião?" __ Indagavam-me sem acreditar na possibilidade!
"O nordestino é antes de tudo, um forte"! - assim dizia o poeta! E, é exatamente essa fortaleza que nos faz sonhar e crer em dias melhores.
 É o fato de sermos fortes que nos leva a crer que podemos sim, escrever o futuro!
2016 __ ano de Olimpíada! O espírito olímpico contagia o povo brasileiro e também os estudantes de escolas públicas.
É dada a largada para mais uma competição entre autores anônimos que vislumbram tocar o coração daqueles que já não enxergam com bons olhos o lugar onde vivem.
A missão é árdua! É preciso ter muita sede e a persistência de um forte para vencer cada etapa.
Ciente da minha missão, resolvi mais uma vez participar dessa competição: abracei pela quarta vez, mais uma edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, no entanto, este ano, seria diferente! Agora carregava comigo a experiência de ter sido semifinalista em duas categorias no ano de 2014 .
O desafio agora era competir em outro gênero: Poema! - uma chama de sentimentos tomou conta de mim. A hora era agora!
Precisava vestir a camisa do nosso time e vencer! Vencer não só a competição, mas os medos, as angustias e a descrença de que poderíamos sim, representar o nosso estado na Semifinal da Edição de 2016, assim como já o representamos em edições anteriores, mesmo que em gêneros diferentes.
são vinte anos da docência. Metade de minha vida foi dedicada ao ensino. Já pensei muitas vezes em desistir, mas graças a Deus, em cada turma que recebo, sou presenteada, nem que seja com apenas um aluno, que me incentiva a continuar!
Em meio a tantos olhares percebi que havia um que se destacava. Era a injeção que me faltava!
Vesti a camisa, arregacei as mangas e suei para que a minha missão
fosse alcançada com êxito.
A princípio pensei em desistir antes mesmo de começar, pois nem eu acreditava que em meio a tantos alunos com dificuldades encontraria um que não se deixaria
"influenciar" e que também vestiria a camisa de nosso time para vencer mais essa Olimpíada.
Como estímulo, apresentei à turma alguns objetos (medalhas, revistas e fotos) da última Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro em que participei.
Falei-lhes da possibilidade de participarmos e vencermos mais essa edição. Voei alto! Mas infelizmente, nem todos se dispuseram a participar e a alçar voo rumo à tal competição.
Lembro-me que em uma das aulas pedi que olhassem com bastante atenção o lugar onde vivem. Pedi que observassem e anotassem para trazer na aula seguinte, cada detalhe que
caracterizasse a nossa terra, o nosso chão. Observem TU-DO! (foi exatamente esse o comando). Contemplem ruas, praças, pessoas, sotaques, costumes, vozes, enfim não descartem
nenhum pormenor, pois esse pode ser a cereja do “bolo” (no nosso caso do poema) que fará toda a diferença em nossa escrita.
A “sorte” foi lançada!
No dia marcado para receber tais anotações, não consegui camuflar o meu desânimo, pois minha decepção estampava a face desta professora que vos fala – Apenas
três alunos trouxeram o que pedi. Mas isso não me fez desistir. Coletei as informações e as transcrevi para a lousa.
Pedi que averiguassem se ainda havia algo que não fora citado. Aí sim, senti a euforia de todos. Meu rosto iluminou-se!
Muita coisa foi lembrada e citada por “meus meninos” e nossa lista crescia fervorosamente.
De posse dessas informações passei a instigá-los a escrever um poema coletivo sobre a nossa cidade. Eles riam com as rimas sugeridas e se deliciavam com cada verso construido.
Não escondo o quanto me senti orgulhosa!
Certo dia levei a “Coletânea de poemas” e juntos lemos a poesia “Tem tudo a ver” de Elias José. Na sequência debatemos os conceitos de poema e poesia. E mais uma vez
me surpreendi – a turma toda participou! Era o início de mais uma edição do escrevendo o futuro. Falei de Mário Quintana, Bráulio Bessa, Patativa do Assaré, Drummont...Foi fantástico!
O tempo passava e eu a cada dia sentia maior necessidade de desenvolver as oficinas propostas.Porém, nem tudo acontece como desejamos.
As reformas da escola misturada aos desânimos de alguns alunos foram a cada dia distanciando-nos de nosso objetivo – a semifinal.
O primeiro semestre findou-se e com ele foi-se também a euforia de muitos de meus alunos. Eu ainda acreditava que poderíamos chegar lá, pois tínhamos muita coisa encaminhada.
Foi aí que resolvi imprimir alguns textos de alunos que já haviam se classificado em outras edições da OLP.
Ao ler e analisar os textos perceberam que não era tão difícil produzir um texto poético, no entanto, algumas características precisavam ser consideradas: rimas, figuras de linguagem,
sentido próprio e sentido figurado e outras tantas características do gênero. Mas o que me chamou atenção foi o fato de que o desejo aflorou mais uma vez em cada olhar.
Claro que houve os que não se engajaram, os que não ousaram sonhar junto aos demais, mas que mesmo assim, torciam para que ao menos um texto saísse de nossa turma
para que pudéssemos representar a escola. A maioria passou da posição de competidores à de torcedores!
Ainda tentei resgatar alguns de nossos jogadores, mas infelizmente não obtive êxito.
Mas Roseane (a mais nova da turma), embarcou nesse avião e insistiu em voar... voou nas asas da imaginação e traçou os primeiros versos falando ne nosso chão,
de nossa gente e de nossa força! As mãos e a pureza de criança traçaram os versos que sensibilizariam a todos. Era a voz do presente escrevendo o futuro!
Nosso prazo se esgotava e precisei auxiliar os alunos na lapidação dos seus textos. Foram dias e dias de reescrita e ajustes para que os textos pudessem estar à altura de competir e
quiçá disputar etapas futuras.
Após a escrita final, o texto Alma Sertaneja foi escolhido para representar a escola na etapa municipal. A alegria foi contagiante quando a Comissão Municipal anunciou a escolha do texto
para representar o município na Etapa Estadual, mas nada se comparou com à felicidade de Roseane ao saber que o texto de sua autoria havia passado também para a etapa seguinte.
__ "Eu consegui professora, conseguimos!! Uhuuu!" Ainda me arrepio ao lembrar dos seus gritos ao receber a notícia de sua classificação.
Parafraseando Suassuna, afirmo que o professor, "é antes de tudo, um forte!" E é exatamente essa força e persistência que nos trouxe até a semifinal.
Já somos medalha de bronze! Mas contianuamos na disputa por mais um lugar no pódio!
Estamos com as malas prontas para voarmos rumo à Salvador, mas continuamos sonhando em seguir até o Planalto Central em busca do Ouro Olímpico!


Rosa Luzia Ribeiro da Silva

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