quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Relato de prática - Crônica







Fazendo História


“É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” Pensando nessas palavras de Fernando Pessoa, convoquei meus alunos do 9º ano a trilhar junto comigo todas as etapas da 4ª Edição da Olimpíada de Língua Portuguesa. E fundamentados no pensamento de Mário Quintana o qual afirma que “são os passos que fazem os caminhos’, resolvi seguir cada passo sugerido para alcançar nosso objetivo: Vencer a Etapa Municipal da Olimpíada, pois para nós, isso já seria uma bela conquista!
Estou na docência há mais de 15 anos e participei de 3 das 4 Edições da Olimpíada de Língua Portuguesa, porém nunca com muito sucesso!
Este ano, ao mesmo tempo que trabalhava com o 8º ano com o gênero “Memórias Literárias”, com o 9º ano, o gênero era “Crônica”. Aqui o olhar tinha que ser mais sensível. Então, a minha missão era provocar em meus alunos a garimpagem cenas corriqueiras do “Lugar onde vivem” que pudessem se transformar em “histórias” onde o cenário e os protagonistas fossem de nossa Anísio de Abreu.
A princípio, fiz a divulgação da Olimpíada, mostrei um slide com a definição do gênero e suas principais características do mesmo. Em seguida, busquei colocar meus alunos em contato com uma diversidade de crônicas - o livro didático contribuiu bastante, pois nos traz muitos textos de tal gênero. Apresentei à turma a coletânea de textos (material da última Olimpíada), pedi que escolhessem aquele que mais lhes chamassem atenção pelo título. As escolhidas foram: A última crônica (que por sinal sensibilizou muitos deles), Um caso de burro, Peladas e O amor acaba, esta última inspirou a elaboração de um texto coletivo sobre o tema “Amor”. O primeiro texto nos estimulou a fazermos reflexões sobre a escrita.
Pedi que os alunos listassem sobre situações típicas do cotidiano do nosso município, escola, comunidade... e escolhessem uma e, a partir dela, escrevessem uma crônica, considerando as características do gênero. -  Vamos fazer história! – mal sabia eu que íamos mesmo!! Para minha surpresa, muitos textos estavam adequados.
Em outra ocasião pedi que trouxessem fotos de cenas do cotidiano e realizamos uma atividade com o tema: “Isso dá crônica”. Em duplas, elaboraram crônicas e fizemos a exposição das mesmas para a turma. Essa etapa foi bastante produtiva.
Pedi que pesquisassem em sites locais, as últimas notícias sobre o município. Daí obtivemos uma série de temas: campeonatos, festejos, assaltos, escassez de água, violência, drogas e uma infinidade de temas que possibilitou a escrita de crônicas com enfoques diversos (humor, crítica ou emoção).
As oficinas foram acontecendo de forma natural e o gênero foi sendo assimilado pelos alunos a cada dia. Confesso que eles se saíram melhor que o esperado. Claro que tiveram aqueles que resistiram em realizar as propostas, mas no geral, foi ótimo! Fomos interrompidos pelas férias que, este ano, foram mais longas devido à Copa do Mundo!
As férias terminaram e era a hora de iniciar a proposta da Olimpíada de Língua Portuguesa e construir uma crônica com o tema "O lugar onde vivo". Agora era pra valer!! Não bastava ter linguagem simples, tinha que tocar o leitor, provocar sentimentos...situá-lo no espaço e no tempo...utilizar os verbos de dizer...usar figuras de linguagem, enfim, a escolha do tema seria fundamental! E o olhar e sensibilidade do cronista imprescindível!!
Dado início às propostas, obtivemos bons textos. Alguns bastante adequados à Olimpíadas, outros nem tanto! Por fim, apenas três textos me chamaram atenção: o primeiro me falava da copa do mundo, o outro falava da própria olimpíada, e o terceiro falava de algo singular - uma obra inacabada que foi construída em frente a única atração turística da cidade. Estes foram os escolhidos para serem aprimorados, mas apenas um representaria a escola na etapa municipal.
Ainda tinha um desafio: atingir os alunos que não se engajaram. Buscar técnicas para tocá-los, buscando o crescimento coletivo. Apresentei alguns textos produzidos em etapas anteriores por aluno da escola. Lembro-me de um comentário: “Nossa, professora foi ele mesmo quem fez?” e também da minha resposta: “Sim, após várias reescritas”.
Já estávamos na última semana e incansavelmente as alunas, autoras das melhores crônicas, reescreveram seus textos buscando aprimorá-los e adequá-los às exigências da Olimpíada. Gabriela da Luz, foi a aluna autora do melhor texto. E o texto que representaria a escola? “Nem sempre quem cala consente”.
Alcançada a Etapa Municipal, restava apenas torcer para que o nosso texto conseguisse chegar à próxima Etapa.
Semanas se passaram e o inesperado aconteceu. Recebi um E-mail nos parabenizando pela classificação na Etapa Regional da Olimpíada de Língua Portuguesa de 2014. E a profecia se cumpriu:Fizemos História!! Anísio de Abreu, pela terceira vez é Medalha de Bronze!!
Faço minhas as palavras de Martin Luther King: após esta conquista, “não sou mais o que era antes!

Rosa Luzia Ribeiro da Silva


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