Nasci em uma cidadezinha do
interior do Piauí. Gostava muito de brincar na casa de meus avós que ficava na
rua de cima - assim nós chamávamos a Avenida Capitão Manoel Luiz. A casa da vó
era o melhor lugar do mundo para mim, que passava o dia contando as horas para
poder ir para lá.
A casa era simples, mas bastante
acolhedora. Tinha uma calçada alta, porta larga e janelas estreitas. Na sala
tinha um espelho com moldura azul celeste e alguns quadros de Santos de sua
devoção e também a fotografia pintada a mão da minha Bisa Maria Joaquina. O
quintal era bastante grande e com inúmeras laranjeiras. Havia também um pilão
onde minha avó fazia corante com as sementes de urucum que colhia ali mesmo no
quintal. Às vezes ela colocava o milho de molho para, ao amanhecer, ela moer e
fazer um delicioso cuscuz.
Mas o que mais me recordo das
idas à casa de minha querida avó, são das rezas para São José que era festejado
por ela e pela vizinhança todos os anos. Acho que foi aí que despertei o
interesse pela leitura. Eram nove dias de rezas para o Santo, que por anos fora
também festejado pelos antepassados da minha avó. No último dia de reza – 19 de
março – ela servia aos devotos um banquete recheado com biscoitinhos de
polvilho, batizados por nós, como “bolinho de São José” acompanhado por chás e
café fresquinho.
Meu avô, era o vigia da escola
onde eu estudava. Ele era um homem sereno, brincalhão e cheio de uma sabedoria
popular infinita. Aprendi muitas coisas com ele. Às vezes, quando acabava a
energia, reuníamos todos na calçada da casa da vó para ouvirmos os causos
contados pelo meu avô. Ele sabia de cor, os mais diversos contos: comédias,
tragédias, terror, enfim tudo que fosse solicitado ele contava, quando não
sabia, inventava. A noite passava rapidinho enquanto ele contava suas histórias
e eu viajava em cada aventura contada.
Minha mãe era professora das
séries iniciais e sempre estive rodeada de livros por toda a parte... Bíblia,
catecismo, dicionários, livros de receitas, literatura, enciclopédias enfim,
ela tinha uma estante enorme cheia deles.
Ainda muito pequena aprendi a ler
e a escrever. Tinha muito medo da palmatória que minha tia usava quando ia nos
tomar a lição de casa. Tal medo me ajudou a ser alfabetizada bem cedo.
Lembro-me da cartilha do A-B-C que minha mãe usava para alfabetizar seus alunos
e que eu folheava sempre que podia.
Ainda na infância, passava as
tardes brincando de escolinha no quintal da vizinha, fazendo de conta que
aprendia enquanto ela fingia que nos ensinava. Era uma diversão só!
Lembro-me com carinho da minha
primeira professora, sempre gentil e criativa, que nos apresentou os meios de
comunicação quando os mesmos ainda estavam muito distantes de nossa realidade.
Os clássicos da literatura infantil contados e dramatizados por ela, nos
conduzia a um mundo fantástico e encantado. Era o mundo da leitura.
Já no Ensino Médio, contei com a
sorte de receber aulas das melhores professoras de Língua Portuguesa e
Literatura de São Raimundo Nonato – onde aprendi no curso pedagógico, a arte de
ensinar -, minha inspiração foi a professora Dulcenildes, a quem comecei a
admirar e a sonhar em ser igual a ela...Leituras? eu fiz muitas! Machado,
Alencar, Pessoa, Clarice...
Hoje sou professora e busco ser
exemplo para os meus alunos assim como eles (professores e livros) foras
exemplos para mim. Li e conduzi a leitura para muitos, crianças, adolescentes,
jovens e adultos... E, como diria o poeta, “tudo vale a pena”, e como vale!!
Rosa Luzia Ribeiro da Silva
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