quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Crônica - E agora?


Era uma manhã como outra qualquer, estava a caminho da escola seguindo o mesmo trajeto que faço cotidianamente. Nada diferente dos outros dias, apenas o fato de seguir a pé e não de carro como de costume.
Ao passar pelo Mercado Velho, uma cena me chamou atenção. Logo na esquina vi aquela criatura de olhos verdes como duas esmeraldas a vasculhar um tonel de lixo que fica bem ao lado do mercado. Notei que ele não apenas revirava o lixo, mas separava-o cuidadosamente meio desajeitado deixando cair pelo chão o que havia sido armazenado em sacolas pelos moradores e comerciantes dos arredores.
Fiquei ali alguns minutos observando aquilo que já havia presenciado outras vezes, mas que agora resolvi observar mais de perto...percebi que a criatura comia de vez em quando alguns dos alimentos encontrados naquela lixeira. Com uma caixa sobre a cabeça caminhava de um lado para o outro balbuciando algumas palavras desconexas. Seu olhar era inquieto, parecia assustado e temeroso. Exalava um odor insuportável, não pelo fato de estar em meio a tanto lixo, mas por não ter o hábito de tomar banho.
Havia por ali outras pessoas, mas aparentemente ninguém o via; ou via e não enxergava. Se é que podemos ver sem enxergar! Os meus olhos não me deixaram sair daquele lugar sem saber o desfecho daquela história.
A curiosidade tomou conta de mim...
__E agora, Padim?
__E agora, Madinha? __ Ele repetia esse questionamento a todo momento.
E eu comecei a imaginar...
E agora, o quê?
O que será que se passa na cabeça daquela pobre criatura?
O que será que ele pensa?
O que será que ele sente?
E agora, Padim?
E agora, Madinha?
Segui o meu caminho com aquela pergunta na cabeça.
Se algum dia passares pela minha cidade e por acaso encontrar um menino de olhos verdes, sujo, de pés descalços, roupas mulambentas, com uma caixa de papelão nas mãos ou revirando o lixo, não se assuste: é o Padim, nosso pobre e ilustre menino de rua.

Rosa Luzia Ribeiro da Silva

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