Era uma manhã como outra
qualquer, estava a caminho da escola seguindo o mesmo trajeto que faço
cotidianamente. Nada diferente dos outros dias, apenas o fato de seguir a pé e
não de carro como de costume.
Ao passar pelo Mercado Velho, uma
cena me chamou atenção. Logo na esquina vi aquela criatura de olhos verdes como
duas esmeraldas a vasculhar um tonel de lixo que fica bem ao lado do mercado.
Notei que ele não apenas revirava o lixo, mas separava-o cuidadosamente meio
desajeitado deixando cair pelo chão o que havia sido armazenado em sacolas
pelos moradores e comerciantes dos arredores.
Fiquei ali alguns minutos
observando aquilo que já havia presenciado outras vezes, mas que agora resolvi
observar mais de perto...percebi que a criatura comia de vez em quando alguns
dos alimentos encontrados naquela lixeira. Com uma caixa sobre a cabeça
caminhava de um lado para o outro balbuciando algumas palavras desconexas. Seu
olhar era inquieto, parecia assustado e temeroso. Exalava um odor insuportável,
não pelo fato de estar em meio a tanto lixo, mas por não ter o hábito de tomar
banho.
Havia por ali outras pessoas, mas
aparentemente ninguém o via; ou via e não enxergava. Se é que podemos ver sem
enxergar! Os meus olhos não me deixaram sair daquele lugar sem saber o desfecho
daquela história.
A curiosidade tomou conta de
mim...
__E agora, Padim?
__E agora, Madinha? __ Ele
repetia esse questionamento a todo momento.
E eu comecei a imaginar...
E agora, o quê?
O que será que se passa na cabeça
daquela pobre criatura?
O que será que ele pensa?
O que será que ele sente?
E agora, Padim?
E agora, Madinha?
Segui o meu caminho com aquela
pergunta na cabeça.
Se algum dia passares pela minha
cidade e por acaso encontrar um menino de olhos verdes, sujo, de pés descalços,
roupas mulambentas, com uma caixa de papelão nas mãos ou revirando o lixo, não
se assuste: é o Padim, nosso pobre e ilustre menino de rua.
Rosa Luzia Ribeiro da Silva
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